Diretor do Creci nega que esteja havendo especulação no preço dos imóveis na cidade

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Um dos comentários mais recorrentes atualmente em Nova Friburgo é que depois da tragédia de 12 de janeiro os aluguéis subiram muito. Também se ouve muito que os proprietários tiraram os imóveis do mercado para poder cobrar mais por eles. Mentira ou verdade? O diretor do Creci RJ, Camilo Eduardo Abicalil, nega veementemente estes comentários, garantindo que o problema não começou agora, ou seja, já não havia imóveis para alugar na cidade antes da catástrofe.

A falta de imóveis existente hoje, diz, já era notada desde 2008 e foi crescendo à medida que novos moradores se instalaram na cidade. Ele afirma que a situação está tranquila, embora admita que a demanda aumentou. “O problema está acontecendo porque quem está procurando imóveis para alugar nunca precisou, pois tinha sua casa própria ou de um familiar. E, agora, a casa pode ter desabado, a rua ter ficado interditada, enfim, quando esta pessoa procura e não encontra um novo lugar para morar, acaba jogando a culpa em alguém”, afirma. Mas, afinal, houve ou não um aumento na procura? Abicalil admite que sim, mas não na proporção que se comenta.

O corretor fez um levantamento dos imóveis disponíveis para locação em todas as imobiliárias de Nova Friburgo. Contando casas e apartamentos quitinetes, de quarto e sala, dois e três quartos, havia esta semana apenas 58 imóveis disponíveis, número muito inferior ao necessário para uma cidade do porte de Nova Friburgo. Claro que muitos proprietários ainda preferem alugar diretamente, mesmo correndo riscos de inadimplência. Camilo Abicalil ressalta, porém, que nos meses anteriores este número era mais ou menos o mesmo.

Um problema do mercado

Segundo Abicalil, a falta de imóveis observadas atualmente não tem nada a ver com a calamidade que se abateu sobre o município. Deve-se a uma série de fatos, principalmente à falta de ações dos governos anteriores, de políticas estimulando a construção civil e dificuldades burocráticas para se construir. Ao contrário do que se pode pensar, não falta crédito para comprar ou para construir. “Dinheiro existe, este não é empecilho. Desde os governos de Lula e de Fernando Henrique o que não falta é dinheiro disponível para habitação”, garante.

Por outro lado, afirma, continuam existindo outras dificuldades, como facilidades para liberar a aprovação de um projeto ou de uma diretriz para se ter um procedimento padrão, que torne mais ágil a aprovação de projetos. Enquanto isso não acontece, a construção civil viverá uma crise muito grande. Basta dizer que, para aprovar um prédio, leva-se de seis meses a um ano e, além disso, o custo desta aprovação é altíssimo.

Importante ressaltar que este problema é municipal. “No Rio de Janeiro pode-se ver construções em tudo quanto é lugar. Já em Friburgo não se encontram dez prédios sendo construídos. Camilo Abicalil vai além e pergunta: “Quem constroi hoje em Friburgo? A Gemini, que está deixando de construir e vai ficar só com seu empreendimento em Olaria; Jorge Pontes, a Frienge, que só constroi imóveis populares, e a CCJ, que pouco construiu nos últimos anos, e é só. Não se veem cinco prédios sendo construídos na cidade. Enquanto isso, precisaríamos de muitas construtoras, muitas construções, muita diversificação. Precisamos direcionar outras áreas para construção, e aí, sim, teríamos um mercado mais flexível, que atenda à demanda local”, explica.

 

E agora? Como ficará a população friburguense, mesmo depois que as pessoas começarem a receber aluguel social? Até porque, como diz Camilo, esta locação também é complicada, porque quem vai garantir ao proprietário o recebimento deste aluguel? E depois que a pessoa deixar de receber este auxílio?

O problema é sério. Principalmente porque, destaca Camilo Abicalil, estas casas atenderão à demanda de quem já precisava morar, acrescida daqueles cujas casas desabaram ou foram atingidas pelas águas. “E a demanda normal da cidade? E a procura que já existia e o mercado não conseguia atender?”, questiona.

Mesmo assim, ele garante que o mercado imobiliário não está inflacionado. “Não temos grandes investidores entre os proprietários de Friburgo e, muito menos, especuladores”, afirma. Um ou outro dono do imóvel até quis aumentar um pouco, admite, mas, nestes casos, os próprios corretores orientam os proprietários a não cair na armadilha. Primeiro, porque este não é o momento, isso não é cabível numa situação deste tipo. E, segundo, devido ao próprio poder aquisitivo da população, a especulação sairia pela tangente.
Admite, porém, que isso pode estar acontecendo com imóveis populares e na periferia que, em geral, são alugados diretamente, sem a intermediação de imobiliárias.

Mais do que nunca, o momento atual do mercado de imóveis de Nova Friburgo exige flexibilização. “Que os procedimentos sejam mais ágeis, menos burocráticos, o momento é de flexibilizar os empreendimentos imobiliários. Em outras palavras, onde só se podia construir dois andares, permitir que sejam construídos cinco, mas também não permitir que se construam dez”, sugere.

E quanto aos imóveis que se encontram fechados, mesmo com tanta gente procurando lugar para morar? Isso pode estar acontecendo por diversos motivos: o proprietário pode estar guardando o mesmo para um filho que vai se casar, pode também ter tido prejuízos numa locação anterior, pode ter adquirido o imóvel para usar em fins de semana, feriados e férias, e ultimamente pouco estar utilizando, assim como pode ter comprado para investimento. Segundo Camilo Abicalil, estas situações de fato existem e o Creci pretende incentivar os proprietários a disponibilizar os imóveis para locação.

FONTE: JORNAL A VOZ DA SERRA

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